A Paralisia Obstétrica é uma lesão do plexo braquial, geralmente unilateral, provocada por tração ou avulsão das fibras nervosas durante as manobras obstétricas realizadas no parto. Ocorre em cerca de 25 a cada 10.000 nascimentos.
Plexo Braquial
O plexo braquial é um conjunto de nervos formado pelo ramo anterior da medula espinhal dos quatro últimos nervos cervicais e o primeiro nervo torácico (C5, C6, C7, C8 e do T1), responsáveis pelo movimento e sensibilidade dos ombros, braços e mãos. As suas raízes dão origem aos troncos superior (C5+C6), médio (C7) e inferior (C8+T1), sendo que cada tronco divide-se em divisões anteriores e posteriores.
Factores de Risco
Há alguns fatores que podem ser considerados de risco para a paralisia obstétrica, nomeadamente a macrossomia fetal (o bebé ser grande), um parto prolongado, obesidade materna, distocia de ombros, uso de fórceps e ventosas, parto pélvico e ainda diabetes materna.
Classificação
Sinais e Sintomas
Os sinais e sintomas da lesão dependem do local, tipo e gravidade da mesma. Uma lesão do tronco superior pode dificultar movimento da região do ombro; quando o tronco médio é afetado pode haver dificuldade de movimento do cotovelo; o comprometimento do tronco inferior pode dificultar o movimento da mão. Quando ocorre lesão dos três troncos, pode haver paralisia total do membro superior.
Além de fraqueza muscular e flacidez, a lesão pode provocar alterações de sensibilidade, dor, atrofias e encurtamentos musculares, rigidez nas articulações e deformidades musculoesqueléticas no membro superior afetado, podendo levar a alterações posturais.
Diagnóstico e Prognóstico
O diagnóstico da paralisia obstétrica é feito com uma avaliação neurológica do recém-nascido em conjunto com a história obstétrica e do parto. Por vezes, o diagnóstico é sugerido pelos próprios pais, que se apercebem da hipotonia do membro superior dos filhos nas semanas seguintes ao nascimento.
O local e o tipo de lesão do plexo braquial determinam o prognóstico. Aproximadamente 70% das lesões regridem espontaneamente no decorrer de alguns meses com tratamento conservador. Por ser uma lesão que pode causar sequelas no decorrer do crescimento da criança, é fundamental o papel da fisioterapia no tratamento conservador para a melhoria e a manutenção da funcionalidade e qualidade de vida da criança. Dependendo do tipo e gravidade da lesão, alguns casos podem necessitar de abordagem cirúrgica, existem diversos tipos de cirurgia que visam restaurar a função dos nervos comprometidos.
Fisioterapia
A abordagem do paciente com lesão do plexo braquial tem como objetivos a recuperação funcional e a redução de possíveis complicações, visando maior independência e melhor qualidade de vida.
As principais complicações nestes pacientes são alterações da sensibilidade, perda total ou parcial dos movimentos do membro, assimetrias posturais, deformidades articulares, omoplata alada, desequilíbrios musculares e retrações das partes moles.
A fisioterapia pode e deve ser iniciada logo após o diagnóstico, no sentido de potenciar ao máximo a recuperação do membro afetado.
As sessões de fisioterapia no recém-nascido podem ser estruturadas em 4 momentos:
- Correção da postura
- Mobilização passiva
- Posicionamento do braço
- Ensino aos pais
O posicionamento do braço assume um papel fundamental e deve ser ensinado aos pais/cuidadores, para que possa ser realizado ao longo dos dias, mesmo para além das sessões de fisioterapia. Devemos estimular 4 posições:
- A abdução com rotação externa
- A abdução horizontal com supinação
- A adução
- A rotação interna (esta só depois da criança completar 28 dias)
O posicionamento deve ser implementado logo após o diagnóstico, durante o dia entre as mamadas e também ao longo da noite. É importante ter atenção ao posicionamento do membro superior lesionado durante as mamadas e o banho para evitar pioria da condição. O bebé deve usar sempre que possível roupas largas.
Em termos de estratégia de intervenção devemos considerar o membro superior como parte de um todo, promovendo a simetria e a correção postural, de modo a haver uma informação proprioceptiva adequada. Até aos 4 meses devemos favorecer a atividade bilateral, privilegiando a simetria com enfoque na linha média. A partir dos 3 meses pode estimular-se a posição de decúbito ventral com apoio do braço afetado, para o estimular.
Posturalmente devemos sempre ter em atenção o bebé na sua globalidade, construindo uma base de suporte correta, para dar-lhe pontos de referência adequados.