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Pneumonia: A Capitã Mortal dos Homens

Sábado, 12 Novembro, 2016

A Pneumonia (PMN), capitã mortal dos homens, é uma doença conhecida desde os primeiros registos encontrados de medicina, considerada uma das patologias mais antigas a exibir um nome e um diagnóstico específico (Marrie, T., 2002, Community-Acquired Pneumonia).

E foi através de Hipócrates (460-370 a.C.), pai da medicina e com o seu notável trabalho e respectiva dedicação que a evolução e o conhecimento desta doença desabrochou, com as suas primeiras abordagens descritivas da mesma. 

Mas qual a sua importância?

No inicio do séc. XX Sir William Osler, conhecido como o pai da medicina moderna, viria a referir PMN como a capitã mortal dos homens, visto que a taxa de mortalidade era muito alta comparada com outras doenças pulmonares, como por exemplo a Tuberculose (Marrie, T., 2002, Community-Acquired Pneumonia).

Contudo, e apesar dos esforços e estudos desenvolvidos, continua a prevalecer até à data a dificuldade em gerir esta grave doença.

De acordo com a World Health Organization (WHO), a PMN foi a causadora de 15% do total de mortes em crianças menores de 5 anos de idade em 2015, tendo sido considerada a 1ª causa de morte de acordo com a faixa etária.

Também, e segundo a Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP) a PMN é uma doença que anualmente causa 4.2 milhões de mortes à escala mundial sendo 1.4 milhões, crianças com menos de 5 anos de idade.

No nosso país adoecem por dia 400 pessoas com PMN, que obrigam a 120 internamentos (estudos realizados em 2011) e provocam 14 óbitos (estudos realizados em 2010).

A PMN é considerada a 3ª causa de morte por doença em Portugal e apresenta maior prevalência sobretudo em crianças pequenas, idosos, doentes crónicos (DPOC, diabetes) e imunodeprimidos.

De um ponto de vista económico encontra-se igualmente impactante.

Segundo o Dr. Filipe Froes, médico pneumologista e membro da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), numa entrevista dada à News Farma, publicada a 15 de Abril de 2016, a cada quatro dias e meio são registados 1 milhão de euros em custos directos por internamento devido à pneumonia adquirida na comunidade (PAC), o que se traduz em 80 milhões de euros por ano.

Refere ainda que “a incidência da pneumonia aumenta porque cada vez vivemos mais com doenças crónicas”, e um exemplo muito comum é a presença de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica), que apresenta um risco 20 vezes superior de vir a adquirir PMN.

Pneumonia

Consensualmente, a WHO, a FPP e a SPP descrevem PMN como uma doença inflamatória aguda de causa infecciosa (vírus, bactérias, fungos e outros) que afecta os pulmões, ou mais precisamente o parênquima pulmonar.

O pulmão é constituído por milhões de pequenos sacos de ar, chamados alvéolos, que se enchem de ar quando respiramos. Contudo, na PMN os alvéolos encontram-se preenchidos de pús e liquido, levando a uma deficiente entrada de oxigénio para o organismo, com as consequentes lesões.

Classificação da Pneumonia

Actualmente a PMN pode ser dividida de um modo geral em:

  • PAC (pneumonia adquirida na comunidade);
  • PN (pneumonia nosocomial);
  • PAVM (pneumonia associada a ventilação mecânica).

Em síntese:

  • A PAC refere-se à doença adquirida fora do ambiente hospitalar ou de outras unidades de saúde, ou ainda, que se manifesta até 48h após a admissão à unidade hospitalar/ unidade de saúde;
  • A PN é definida como a pneumonia que ocorre até 15 dias após a alta hospitalar ou após 48 horas de um internamento hospitalar;
  • A PAVM é aquela que surge entre 48 a 72 horas após uma intubação orotraqueal e instituição de Ventilação Mecânica Invasiva.

Sinais e Sintomas:

  • Febre (normalmente elevada);
  • Tosse;
  • Secreções de coloração amarelada, esverdeada ou cor de ferrugem;
  • Dispneia (Falta de Ar);
  • Dor Torácica;
  • Taquipneia (aumento da frequência respiratória);
  • Taquicardia (aumento da frequência cardíaca);
  • Cianose (descoloração azulada da pele);
  • Arrepios;
  • Cefaleias (dores de cabeça);
  • Mialgias (dores musculares);
  • Mal estar generalizado;
  • Entre outros.

A SPP e a FPP alertam igualmente para o facto de que um doente infectado tem sintomas semelhantes ao de outras doenças do sistema respiratório e não só, pelo que é difícil de detectar, retardando assim o seu diagnóstico.

Diagnóstico

  • História clínica do paciente;
  • Auscultação Pulmonar;
  • Raio X (possíveis sinais de consolidação pulmonar e opacidade);
  • Avaliação da Expetoração;
  • Análises clínicas;
  • TC (Tomografia Computorizada);
  • Broncoscopia;
  • Entre outros.

Ter em conta que a realização de exames complementares de diagnóstico dependerá da avaliação médica e da sua respectiva necessidade.

​Tratamento

No que respeita ao tratamento aplicado, se for de foro bacteriano será tratado com os respetivos antibióticos em esquema e duração adequados. No entanto haverá todo um procedimento de avaliação médica, que terá em conta o estado clínico do paciente, possíveis agentes etiológicos e respetiva via de  administração  medicamentosa.

Como método auxiliar surge aqui a Fisioterapia Respiratória, uma mais valia para o paciente e sua rápida recuperação.

Nas Pneumonias Virais será medicado com antivirais, e caso necessário poderá necessitar de realizar Oxigenoterapia, AINEs (Anti-inflamatórios não esteróides) e antipiréticos.

No que diz respeito a internamento hospitalar, este, de acordo com a FPP e a SPP, não ocorre na maioria dos casos, contudo se se verificar um historial clínico que justifique o agravamento da PMN será aconselhável recorrer-se ao mesmo devido à evolução clínica não favorável nas primeiras 48-72h.

Prevenção

E sem exceção, e utilizando um bom ditado português, mais vale prevenir do que remediar, respeitando sempre os limites de cada paciente.

  • A vacinação (Pneumocócita e Antigripal) atualizada (factor primordial);
  • Adequada nutrição e hidratação (especial atenção em crianças a atravessar a 1ª infância e respetivos benefícios da amamentação materna);
  • Manter uma higiene adequada, como por exemplo lavar frequentemente as mãos e manter uma boa higiene oral;
  • Tomar medidas ambientais, dentro destas a cessação tabágica, a redução à exposição da poluição atmosférica, a redução da poluição interior de casas, fábricas ou escritórios, evitar ambientes sobrepovoados e mal ventilados e evitar a exposição ao frio intenso e ás alterações climáticas bruscas;
  • Controlo da doença crónica;
  • Exercício físico.

Fisioterapia Respiratória

fisioterapia respiratória pretende de um modo geral:

  • Promover a melhoria da ventilação pulmonar;
  • Aumentar a saturação de oxigénio;
  • Mobilizar e remover secreções traqueobrônquicas;
  • Maximizar a tolerância ao exercício e atividades da vida diária (AVD´s);
  • Reduzir a dor.

Os fisioterapeutas para tal utilizam um arsenal de técnicas respiratórias que visam a higiene brônquica e expansão pulmonar em doentes ventilados e não ventilados, quer internados quer em regime ambulatório.

Para além das diversas técnicas respiratórias a aplicar de forma mais ou menos invasiva de acordo com a necessidade do paciente, o ensino ao mesmo é um dos fatores fundamentais a ter em conta. Contudo, toda a intervenção dependerá da avaliação prévia do paciente pelo o fisioterapeuta, querendo isto dizer que a escolha de técnicas deverá ser baseada num diagnóstico funcional, considerando uma terapêutica com menor gasto de energia para o paciente e consequentemente maior eficácia, respeitando o nível de cooperação e compreensão do mesmo.

Assim pretende-se:

  • Dificultar a progressão da doença prevenindo complicações respiratórias;
  • Reduzir a mortalidade e morbilidade;
  • Diminuir o tempo de  internamento (se for este o caso);
  • Diminuir o número de recidivas;
  • Facilitar a readaptação do paciente à sua vida diária.

Por fim, é essencial ter presente que cada individuo é um individuo, ou seja, com uma historia clínica pessoal e intransmissível, pelo que referir algumas técnicas que são utilizadas no dia à dia, não é passível nem a melhor solução a aplicar, visto que o que é melhor para um poderá não ser para o outro, podendo conduzir a um agravamento clínico do mesmo, resulte este de má aplicação ou de pura negligência de fatores predisponentes que influenciam toda a dinâmica de intervenção.

Ana Rita Pereira da Conceição

Ana Rita Pereira da Conceição

Colaboradora da Fisiolar, Licenciada em Fisioterapia em 2008 e Pós-graduada em Fisioterapia Respiratória em 2009, pela Escola Superior de Saúde Atlântica.

Porquê deslocar-se, se vamos ter consigo?

Uma experiência verdadeiramente conveniente e diferenciadora.
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